quarta-feira, 3 de agosto de 2011

GIBIMANIA - Isso é um clássico!

por Renato Rodrigues
A mais tradicional gibiteria do Rio fechou as portas na calada da noite deixando desde já saudades nos colecionadores e amigos do grande Marcus de Moraes. Quem? O lendário Marquinhos da Gibimania, rapá!


Eu soube ontem por um dos membros da comunidade do Orkut "Eu vou na Gibimania". Pela postagem, a loja fechou no fim da semana passada. Eu tive que ir lá conferir e não deu outra. A loja estava vazia, sem nenhuma das raras revistas, bonequinhos, figurinhas, fotos penduradas na vidraça ou sorrisos de quem reencontrou algo da infância. Nem o cartaz estava mais lá. Doeu, viu!

Olha o Marquinhos aí, no meio da gibizada!
Foto pertencente ao site Cultura em Bytes

Quem teve a sorte de frequentar o local sabe que ali era muito mais do que uma revistaria. Mais do que uma loja de colecionáveis. Mais que um sebo. Era um porto seguro no corre-corre tijucano. Era o quarto daquele seu amigo que tem àquelas revista maneiras, os brinquedos que você nem lembrava que já teve e a companhia de muita gente boa de papo!

O auge nos anos 90
Meca dos colecionadores da Zona Norte desde a sua inauguração em 1988, a loja ficava numa galeria na Conde de Bonfim 229 desde 2003. Mas a época de maior popularidade foi quando estava ainda na rua Jurupari (ali perto mesmo) numa lojinha de frente pra rua. Ali se encontrava de tudo: gibis da Ebal, discos, revistas de seriados, fitas, brinquedos antigos e, é claro, a febre do momento. Cards! Aos sábados rolavam altos torneios de Magic e RPG na frente da loja, nem dava para entrar de tanta garotada de mochila.

Quando nós fizemos nosso primeiro fanzine (o "Olha a Frente!") em 1995, pedimos ao Marquinhos para pendurar um cartaz de divulgação lá e ele deixou sem pestanejar. Não pediu nada em troca e nem ligou de perder um espaço onde poderia ter posto um cartaz Marvel ou DC. Fez pra dar uma força! QUEM FARIA ISSO HOJE EM DIA? Só o Marquinhos!

Eu morei em dois bairros afastados da Tijuca, mas sempre que podia dava uma passada por lá para ver umas "velhidades". De vez em quando encontrava o Marquinhos no metrô. Numa dessas viagens ele me pegou cochilando e passou a me chamar de "O cara que dorme no metrô"! Até que ele descobriu que eu desenhava livros de piadas. Aí virei "Olha aí o cara das piadas!".

Mais de uma vez eu passei por ali desanimado com a vida e resolvi dar uma entrada. Aí, era só ouvir àquelas histórias do arco da velha do Marquinhos, dos figuraças que apareciam por lá, da vez em que ele foi no Capitão Aza, dos jogos do Bangu (seu time de coração), das visitas a EBAL ou da guerra que ele travava com os cupins. E lá ia eu embora com a sacola cheia de revistinhas e a cara torta de tanto rir. Aliás, o Marquinhos não deixava ninguém sair dali sem dar uma risada ou ganhar um apelido.

Nos últimos anos a loja só abria depois das 5 da tarde, o que prejudicava a frequência e as vendas. O próprio Marcos já falava que precisava se mudar dali, que o movimento estava fraco e o aluguel alto. E que nem compensava pagar alguém para ficar durante o dia pois as vendas não seguravam. O que me tranquilizava era que ele dizia que ia ficar aqui pelo bairro da Tijuca mesmo. Mas, segundo uma postagem do Orkut, ele teria vendido parte do acervo para um cara que iria abrir um sebo em Nova Iguaçu e o resto venderia só pela Internet (conforme anunciado aqui no site da loja). Será?


Clique aqui no site e mande seu mail pro Marquinhos perguntando "E agora?" e mandando àquele abraço.

APROVEITE E FAÇA UMAS COMPRINHA$!
Podem ser os sinais da vendas pela Internet atropelando as lojas especializadas ou a proliferação de scans... Eu não sei dizer... Mas sei que comprei coisas memoráveis lá, que estão guardadas em sacos plásticos para durarem a vida toda. O que ficarão fora do saco plástico são as memórias de tê-las comprado na Gibimania. Isso sim é um clássico!

Fecho aqui meu texto com uma postagem de mais um órfão da Gibimania, retirado do blog Rapadura Açucarada.
"Gibiterias... não há nada mais legal de se ir, para quem gosta de quadrinhos. Se perder naquela profusão de gibis novos e antigos e, se tiver com alguma grana, comprar alguns. Esses dias fui nas duas que costumo ir quando posso. Uma delas só vou quando realmente sou obrigado, já à outra eu vou de bom grado. Mais ou menos assim, foram minhas visitas a cada uma delas, recentemente:

GIBIMANIA - Eu chego e o Marquinhos me recebe efusivo como sempre. Desde que o conheci há uns dois anos e meio e falei que usava OutsiderZ como nickname, ele nunca mais esqueceu. Pra dizer a verdade ele não sabe meu(s) nomes(s). Chego lá sem grana, mas com alguns "artigos" para negociar.

POINTHQ - Entro e o atendente que está a fechar umas revistas em sacos plásticos nem levanta os olhos. Nem mesmo uma boa tarde. A loja é fria, devido ao ar condicionado, e essa atitude deixa o ambiente mais gélido ainda. Eu estou atrás de uma revista específica. Começo a procurar e dá pra se ver que preciso de ajuda, mas o atendente não está nem aí.

GIBIMANIA - O Marcos conversa com todo mundo ao mesmo. Eu vou procurando aleatoriamente as revistas que quero. Não é um primor de organização, nem de espaço, mas tudo isso é esquecido em prol da atmosfera que o Marquinhos mantém. Ele faz até mesmo questão de tentar te entrosar com as outras pessoas que ali estão. Não é forçado, nem apenas coisa de vendedor, é apenas o Marquinhos.

POINTHQ - Eu tento encontrar a revista o mais rápido possível, para poder sair daquele ambiente que sufoca qualquer um. Chegam alguns amigos do atendente e, claro, apesar de não estarem comprando nada são tratados melhor que qualquer freguês em potencial. Apesar de eu já ir à PointHQ a mais de dois anos, é como se fosse sempre a primeira vez... ninguém me conhece.

GIBIMANIA - Uma senhora idosa entra, para comprar algo para o neto, e começa a falar sem parar, e mesmo assim o Marquinhos dá atenção, mesmo quando já se viu que ela não vai parar. Eu já peguei quase todas as revistas que vou levar, e não são poucas. O Marcos tenta se desvencilhar da senhora idosa, com um pouco de humor... não consegue.

POINTHQ - Não tem jeito, mesmo detestando ir lá, sempre acabo gastando uma nota. Afinal, mesmo com o péssimo atendimento, ainda tem as revistas que eu quero. Estão lá, organizadinhas e hermeticamente fechadas, como os donos e atendentes da loja, que se não me engano totalizam umas cinco pessoas, que geram o calor humano de um cubo de gelo. Como em todas as vezes, pago apressado e dou graças a Deus de estar do lado de fora novamente.

GIBIMANIA - Assim como em várias outras vezes passadas, eu apenas troco o que tenho de revistas e livros com o Marcos, saio com R$ 90,00 em gibi. A cada coisa que mostro o Marcos pergunta se tenho certeza que não quero mais aquilo. Ele soma tudo e diz que se passar não tem problema... e passa e não tem problema. Quando estou indo embora, já na saída, ele aparece perguntando por minha esposa (que foi comigo), porque ele quer se despedir. Damos até logo e ele diz para voltarmos em breve.

POINTHQ - Estou na luz do sol, na rua novamente, ali em Ipanema.... e torço pra não precisar voltar ali tão cedo.

GIBIMANIA - Acho que vou lá por esses dias...

O endereço da GIBIMANIA é:
Rua Conde de Bonfim, 229, Loja 204 - Tijuca - RJ

Já o do POINT HQ que se dane..."

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiz uma revista na adolescência e ofereci na Gibimania, ele simplesmente comprou 5 na hora- várias outras gibiterias colocavam em consignação e depois "perdiam" as revistas... Uma pena esta notícia.