quinta-feira, 25 de junho de 2009

A CABANA

Uma nova visão de Deus para quem não tinha muita intimidade
Eddie Van Feu


O livro de William P. Young que já avisa na capa que esteve em primeiro lugar na lista no New York Times se tornou um best seller também aqui no Brasil. Ele traz o problema típico de boa parte de best sellers atualmente. Poderia ter sido mais curto... Mas, que isso não pese contra o livro. A barriguinha que ele têm é perfeitamente desculpável e A Cababa acaba sendo uma leitura agradável e necessária para a grande maioria das pessoas que precisa recuperar a fé depois de uma tragédia aparentemente sem sentido.

Tudo começa com o simpático relato do narrador, um amigo próximo do personagem principal, Mackenzie Allen Philip, um bom sujeito, homem de família, que se tornou bom pai e bom marido de uma boa esposa. Como muita gente, não teve uma infância muito boa... Na verdade, teve um pai terrível, que deixou marcas profundas, dessas difíceis de apagar. Mas, aparentemente, ele apagou. E se tornou uma pessoa que acreditava em Deus. Até que sua filha menor, de apenas seis anos, é raptada, violentada e morta por um assassino serial que não deixava rastros, nem corpos. Só vítimas, e não eram só as que ele matava, mas os parentes e amigos que sobreviviam pra sofrer a perda.

A partir de então, Mack se torna mais amargo e seu relacionamento com Deus esfria. Ele não O odeia, mas também não vê muitos motivos para amá-lo ou mesmo para acreditar ou confiar nele. Realmente, é de se perguntar pra alguém onipresente quando uma coisa dessas acontece: ONDE DIABOS VOCÊ ESTAVA?!

Mas essa fúria nunca apareceu para Mack. Era só uma tristeza cinzenta, até que um dia, ele recebe, em sua caixa de correio, um recado de Deus, dizendo: “Precisamos conversar”. O local marcado é a cabana onde encontraram o vestido ensangüentado da menina. E é aí que começa a maior aventura de Mack.

O que o espera na cabana muda sua visão de religião, sociedade, relacionamentos, sentimentos e, principalmente, Deus. Para quem já estuda magia, não vai encontrar nenhuma novidade no que Mack descobre. Bom, eu não encontrei, e talvez por isso o devolvi a amiga que o emprestada dizendo um simples “É... Legalzinho!...”. De fato, o livro realmente não me disse absolutamente nada que eu já não soubesse, e isso me fez questionar seu valor como obra.

Como obra literária, é pobre. Tão pobre quanto qualquer best seller. Como best seller, é rico. Mais do que qualquer best seller que eu tenha lido. Há muita gente precisando rever seus conceitos sobre Deus e as pessoas, há muita gente com feridas muito profundas por baixo de cicatrizes aparentes, há muita gente equivocada até a alma com os dogmas religiosos que dividem e limitam, ao invés de aproximar e libertar. Por isso, este foi o primeiro best seller que eu li e não terminei jogando-o contra a parede (é o que eu faço quando me sinto roubada). Até o momento, pode-se faze um clipe da Eddie jogando best sellers contra a parede. Este, na verdade, foi o segundo a não voar pela casa. O primeiro foi Estrada da Noite, não porque fosse bom, mas porque eu estava presa num ônibus numa viagem de seis horas e não tinha onde jogá-lo sem acertar alguém. Mas deste livro, falaremos outra hora.


Se você já conhece Deus, A Cabana é desnecessário. Se você acha que conhece, mas seu coração não é mais leve que uma pena, então não conhece. Nesse caso, deveria ler A Cabana. Pode ser uma experiência que mudará você (pra melhor). Não é qualquer livro que tem esse poder...

William P. Young é o autor de "A Cabana" e Eddie Van Feu é autora de vários "Barracos".



quarta-feira, 24 de junho de 2009

DEUSES AMERICANOS

por Patrícia Balan

Fazer uma crítica sobre um livro de Neil Gaiman é sempre um risco.

Estragar as surpresas da leitura é um pecado. Só não é um pecado maior do que fazer uma crítica genérica demais e inútil. Bom, tal e qual um personagem de Gaiman, percebo agora que já estou na situação que eu pretendia evitar e não tem mais volta.

Então vamos falar de Deuses Americanos.

Muita gente considera este livro o romance mais ambicioso de Gaiman. Ele parece mesmo ter sido uma ponte para um novo público – o americano. Gaiman mergulhou fundo na cultura americana mais pura, mais ancestral, mais acessível a todos e tirou dela uma aventura única. A América é observada em seu todo – presente e passado, interior e cidade grande. Gaiman fez questão de incluir em sua narrativa toda a diversidade que forma a cultura americana. Claro que não dá para cobrir tudo, ainda mais quando o autor não é americano.

Confesso que gosto muito mais de Neil Gaiman quando ele se mantém em um território familiar a ele. Deuses Americanos tem um “sotaque de turista” em sua narrativa. Claro que Gaiman continua brilhante. Um autor tão competente na narrativa de quadrinhos não nos desaponta na dinâmica dos diálogos. Os acontecimentos vão sendo narrados como um filme. Gaiman não peca na ambientação nem na narrativa. Ele parece saber o tempo mínimo e certo para preparar o cenário em nossa imaginação. O resto flui muito naturalmente. Mas o “sotaque de turista” continua lá. As descrições do livro talvez não agradem a quem não tem alma de mochileiro. O livro provavelmente saiu de algum diário de viagem. Está claro que Gaiman andou um bocado pelas estradas americanas até se sentir seguro de seu material. Mas ele descobriu algo mais. Ele descobriu os verdadeiros templos da América, os solos sagrados e... seus deuses – e estes estão muito longe do óbvio.

A grande qualidade de um livro de Neil Gaiman é que ele sempre vai mais fundo do que se espera, e descobre pontos de vista bastante originais. Sua visão é única e sua imaginação não tem limites. As situações são tão originais e tão únicas que acabam por prejudicar a compreensão do texto. Os deuses se manifestam em várias formas de acordo com a situação e muitas vezes não dá para acompanhar o que Gaiman está descrevendo sem voltar algumas páginas e recompor o cenário. Dá pra imaginar a situação se o livro fosse traduzido em quadrinhos. O desenhista ligaria desesperado para Gaiman procurando referências para o que precisa desenhar: “Como assim o deus-elefante veio montado em um rato e depois abriu as quatro mãos?”

Este livro é uma viagem em mais de uma maneira. Os personagens são muitos e são encontrados em diferentes lugares e épocas da América. Eles são apresentados, desenvolvidos e abandonados sem a menor misericórdia. Os cenários possuem muitos detalhes e todos eles são importantes para a ambientação. É fácil se perder em Deuses Americanos, assim como é fácil se perder na América. Mas não esqueçam, os leitores de Gaiman, que ele é o mestre tecelão e não deixa fio solto. Espere até o final do livro e você vai ver que nada gratuito – Nem a introdução do autor.

Apesar do sucesso nos Estados Unidos, eu não recomendo que este seja seu primeiro livro de Neil Gaiman. E nem recomendo que você leia algum livro de Gaiman se você não sonha. Ele ainda é o autor de Sandman. Ele ainda caminha pelo Sonhar esculpindo imagens perfeitamente reconhecíveis – para quem sonha, dormindo ou acordado.



OS PERSONAGENS: A tradução em português manteve os nomes originais em inglês. Isso facilita a compreensão, mas estraga um pouco da construção dos personagens. Muitos dos nomes são trocadilhos, ou charadas. Tomara que esta seja a sua primeira crítica antes de ler o livro. Há surpresas interessantes nas primeiras páginas. Não leia a contracapa ou as orelhas antes de começar a ler o livro. Vale a pena ficar tão perdido quanto o personagem principal desde o começo.

Shadow: Muito calado e reservado, ele passou os últimos três anos na cadeia e está contando os minutos para voltar para casa. Muitas vezes imaginamos maus agouros quando estamos perto de alcançar um desejo muito forte. Shadow está tendo arrepios nestes últimos dias na prisão. Um dos outros prisioneiros, um homem que parece saber de muita coisa, avisa que a tempestade está chegando. E ela vai ser forte. Para um personagem principal Shadow tem poucas opiniões e raramente expõe alguma. De certa forma ele deixa o caminho livre para o leitor tirar as próprias conclusões. Por outro lado o jeito lacônico de Shadow pode deixar o leitor um pouco perdido.

Wednesday: Ele tem um plano. E este não é o tipo de homem ao qual se diz “não”. De algum modo ele sempre consegue o que quer. É dono de um imenso carisma, mas qualquer um que tenha um pingo de sensibilidade percebe o perigo por trás do seu sorriso. É um homem que mistura o sorriso com um ameaçador ranger de dentes. Em certo momento do livro ele parece simplesmente tomar posse de Shadow.

Laura: Esposa de Shadow. Ela mantém a cumplicidade com o marido além do que qualquer um julgaria possível, mesmo com suas falhas.

Mad Sweeney: Um sujeito enorme, beberrão, irresponsável, de pavio curto, louco por brigas com imensos poderes e responsabilidades.

Sr. Nancy: Um velho conhecido de Wednesday. É um senhor divertidíssimo de bigode fino e chapéu de feltro. Sr. Nancy mora na Flórida e usa as expressões mais peculiares e engraçadas do livro. A maioria delas é usada para criticar os outros, principalmente Shadow.

Czernobog: Outro velho amigo de Wednesday. Com forte sotaque russo (pelo que pode ser notado a princípio) este senhor teve uma ocupação violenta no passado. Ele trabalhava em uma espécie de matadouro e especializou-se em usar seu martelo para dar uma morte instantânea de forma que os pobres animais não sofressem muito. Sua destreza em causar mortes instantâneas não deixa de causar preocupação a Shadow.

Existem muitos outros personagens. Não me atrevo a citar mais nenhum. Deuses Americanos traz muitas surpresas agradáveis, outras nem tanto. A melhor maneira de ler este livro é manter a mente aberta e os ouvidos atentos aos trovões. A tempestade está chegando.

POESIA E MÚSICA MEDIEVAL NESTA QUINTA



Todo mês, a Casa das Rosas abre suas portas para a Quinta Poética, um grande encontro dos amantes da boa poesia, com a presença de poetas convidados e de um jovem poeta, que tem a oportunidade de apresentar seu trabalho. Grandes nomes da poesia, como Álvaro Alves de Faria, Beth Brait Alvim, Carlos Felipe Moisés, Celso de Alencar, Contador Borges, Eunice Arruda, Floriano Martins, Francisco Moura Campos, Hamilton Faria, Helena Armond, José Geraldo Neres, Lelia Maria Romero, Raimundo Gadelha, Raquel Naveira, Renata Pallottini, Renato Gonda, entre outros, já estiveram presentes nesses encontros, que são promovidos pela Escrituras Editora e a Casa das Rosas.

Nesta quinta, dia 25 de junho, a Casa das Rosas recebe os poetas Beth Brait Alvim, Dailor Varela, José Geraldo Neres, Júlio Bittar e a jovem poeta Maíra Varela. Participação especial da artista plástica Vanessa Lambert e do grupo musical Olam ein Sof.

O grupo Olam ein Sof toca música barroca e medieval e esteve presente no lançamento de Alcatéia - Prateada, também na Casa das Rosas. Em breve, mais fotos deste evento estarão disponíveis no Mundo de Eddie.

Quinta Poética
Quinta-feira, 25 de junho de 2009 a partir das 19h
Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos
Av. Paulista, 37 - São Paulo/SP
Próximo ao metrô Brigadeiro.
Convênio com o estacionamento Patropi - Alameda Santos, 74
Informações: (11) 5904-4499

Próxima QUINTA POÉTICA: 30 de julho de 2009, quinta-feira, às 19h,
na CASA DAS ROSAS (anfitrião: José Geraldo Neres).